segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Percalços de uma primeira gravidez

A minha ginecologista sempre me disse que iria ter dificuldades em engravidar... que poderia ser um processo difícil e que tudo indicava que iria necessitar de ajuda... assim quando começámos a falar em termos um bebé e deixei de tomar a pílula estava enraizada a ideia de que seria um processo demorado... mas a realidade é que nem foi! E quando o teste deu positivo, confesso que fiquei surpresa e assustada! E feliz... mas muito assustada! Surpresa porque teoricamente iria necessitar de algum tipo de ajuda para engravidar... e assustada porque simplesmente estava grávida!!

-Então mas não querias engravidar? Não deixaste de tomar a pílula com esse objectivo?
- Sim... mas achava que era algo que iria demorar e que iria ter tempo para me preparar... e não tive! Não estava preparada (mas será que realmente alguma vez estamos? Por muito grande que seja o nosso desejo de ser mãe, será que quando está prestes a acontecer, nos sentimos realmente preparadas?)

A minha vida estava prestes a mudar para sempre... uma das muitas coisas que me assustava em ser mãe, era o facto de ser para sempre... não é algo de que nos possamos arrepender ou desistir se as coisas não correrem bem. É um compromisso do qual não podemos fugir nunca mais. E se não estiver à altura dele? E aquela viagem à Patagónia que tanto queria fazer? Já não vai dar... ou melhor, talvez possa voltar a pensar nisso daqui a uns anos.... 

Sempre fui uma pessoa que faz planos! Admito que gosto de ter tudo planeado e organizado, mas se há algo que a gravidez me começou por ensinar é que não é possível planear nem ter o controlo de todas as situações (ou que na realidade é muito pouco aquilo que podemos controlar! Até podemos planear, mas daí até acontecer da forma que planeámos, vai uma grande diferença!)... nada aconteceu como eu pensava que iria acontecer. 

Ainda no primeiro trimestre de gravidez comecei com umas dores fortes no baixo ventre que se intensificavam bastante aquando do movimento, o que me obrigou a estar de repouso durante todo o mês de Agosto... passei o verão bastante quietinha e sem grandes esforços... melhorei e com algumas restrições consegui voltar ao trabalho; mas por pouco tempo... comecei a ter muita dificuldade em dormir devido a dormência e dor nas mãos e braços. De manhã acordava com as mãos super inchadas e com rigidez e demorava cerca de 5 minutos a fazer exercícios de abertura e fecho até conseguir cerrar o punho... esta situação foi-se agravando, e se inicialmente acontecia apenas durante a noite, passado algumas semanas já se apresentava também durante o dia, até que começou a interferir com o meu trabalho e no 5 mês de gravidez deixei de conseguir manusear os instrumentos e de conseguir trabalhar... dormência constante, dores que me faziam chorar e incapacidade para realizar as tarefas mais simples - deixei de conseguir escrever, conduzir, comer era feito com pausas constantes e cortar a carne era por vezes impossível... Síndrome do Túnel Cárpico dizem os médicos...nada a fazer para já, cirurgia após o parto...


No inicio fiquei devastada, desesperada até... sou dentista, preciso do movimento fino e controlado das mãos para conseguir fazer o meu trabalho... tinha aberto clínica há 1 ano...  como poderia manter a minha clínica viva ainda tão no início e fazer face a todas as despesas, profissionais e pessoais sem poder trabalhar? Despesas essas que estavam prestes a aumentar com a chegada do novo membro? Confesso que não foi fácil de aceitar, mas após muita introspecção, meditação e auto-controle tive que o fazer... demorei algumas semanas a perceber e a aceitar que não me adiantava ficar triste e revoltada se nada podia fazer para reverter a situação... restava-me aceitá-la e encará-la da melhor forma possível.. até porque estava grávida, e não convinha andar triste e deprimida... e a partir do momento em que aceitei que era assim, comecei a focar-me nas soluções e não no problema, e consegui fazer essa inversão de pensamento. Deixei o pensamento no trabalho para segundo plano e dediquei o pensamento ao meu bebé e ao seu bem estar. Primeiro do que tudo interessava que a gravidez chegasse ao final, que o parto corresse bem e o Pedrinho nascesse forte e saudável. Depois, pensaria em tratar dos pulsos... tinha esperança de que a situação se revertesse após o parto. De que a cirurgia não fosse necessária... 

O Pedrinho nasceu, mas seguiu-se a amamentação... e de seguida nova gravidez, pelo que os tratamentos para os pulsos continuam fora de questão... o quadro não se reverteu ainda, mas as hormonas continuam a comandar a situação... o regresso ao trabalho ainda não foi possível e os médicos continuam a insistir que a cirurgia é a minha única opção... eu continuo com esperança de que quando as hormonas voltarem ao seu devido lugar, que talvez tenha hipótese de conseguir recuperar os meus pulsos... 

Imagens: 1- OpenClipart-Vectors em Pixabay / 2- Georgex25 em Pixabay / 3- johnhais em Pixabay

Sem comentários:

Enviar um comentário